domingo, 31 de agosto de 2008
- Que feio, menino!
Ela era bonita e fazia natação. Eu era molequinho e também fazia. Molequinho mesmo, uns 3 ou 4 anos de idade. Ela tinha cabelos longos e pretos, sobrancelhas marcantes e silhueta também; peitos ainda por crescer, porém definidos, e um grande quadril...
Luciana.. O nome dela me soava normal, eu queria mesmo era saber de brincar e de olhar ela se preparando pra entrar na aula.
Ela sempre vinha já com o maiô, primeiro tirava os óculos de sol, depois tirava a camiseta e em seguida, flexionava as pernas e o quadril para tirar a calça. Logo se enrolava na toalha, não gostava de se exibir. Mal sabia que ela podia, e muito, se exibir.
Minha mãe me dava as roupinhas, o tenis e me deixava enxugando, enquanto cuidava de fazer tudo isso para meu irmão menor.
Certo dia, num momento de distração, me pego olhando pra ela de um jeito diferente, como se observando-a com mais atenção e sentindo como se estivesse na minha frente. A toalha estava caida nas minhas costas, cobrindo também a parte da frente do meu corpo infantil.
Algo não estava normal. Com a toalha ajeitda a meu modo, não dava pra perceber que eu gostava de onde minha mão estava. Era estranho, bom, diferente, descoberta. Parei, estático, imóvel, só olhos corriam.
Minha mãe ao ver e detectar a situação, logo olhou brava, com o rosto marcado por franzidos que diziam: "pare agora", me reprimia:
- O que é isso, menino? Que coisa feia! Vamos, vista logo essa roupa, temos que ir embora! Se enxugue, olha só, nem se secou direito! Que coisa feia! Que coisa feia!
Entendi na hora que aquilo não era bonito, nem coisa pra eu estar fazendo alí, com aquela idade, naquele momento; me senti meio mal.
Ao longo do meu amadurecimento, fui percebendo que era natural, porém não acatado por outros, principalmente pelos mais velhos.
Agora me pergunto: Será que é necessário mesmo a repreensão de uma criança, especificamente nesses assuntos? Se é algo natural, que ninguém escapa, por que ser "feio" ? Por quê não ser permitido? Claro que aquele não era o lugar apropriado, mas minha mãe não se referia ao lugar, e sim ao ato. Se eu fosse um menino mais tapado, teria ficado um bom tempo pensando na menina daquele jeito e me sentindo culpado, ou então até evitaria pensar nela, pra não me achar errado. Isso sim é feio!
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Leite, café, ou café com leite?
Mudar é mesmo necessário, porém não muito simples.
Esses dias mesmo, estava observando meus últimos interesses e acabei por perceber, por exemplo, que a carreira que estava tão convicta em seguir já não é mais certa e permanente em minha cabeça. Talvez tenha confundido paixão com profissão, não que não goste do que pretendo fazer, mas têm coisas que são por diversão, ou por prazer, como é para mim fazer teatro.
Apesar de ter "certeza" em querer cursar fotografia na faculdade, pensava onde ficariam meus textos e minha vontade de escrever e expressar através de palavras minhas idéias, pensamentos ou acontecimentos vistos aos meus olhos; imagens são imagens, sempre passam uma idéia e provocam um sentimento, mas eu preciso mais que isso. Preciso de perfeita compreensão no que quero transmitir, ou talvez nem tanto, dependendo de como eu queira escrever.
Quero, pois, conseguir juntar as duas maiores paixões profissionais que tenho: fotografia e escrita! Aí sim, fica ótimo.
Pensando nisso, lembro que cresci dizendo que quando crescesse seria apresentadora de programas na televisão, pois achava que desse modo conseguiria saber sobre o que as outras pessoas pensam, me expressar, falar com pessoas que conhecem muitas coisas, isso me fascinava tanto! E também tinha, claro, uma vontade enrustida de ser atriz, porém achava que não seria legal fazer certas cenas com certas pessoas e sempre soube da minha dificuldade em decorar textos.
Sendo assim, minha mãe me apoiava e dizia que eu tinha que fazer um curso de Comunicação Social, e eu gostava tanto desse nome! Até meus 14 anos pensei firme nessa coisa de fazer comunicação. Depois decidi ir para design de interiores, que durou só um ano, e logo passei para fotografia, que sustentava até pouco tempo.
Durante essas oscilações profissionais, ouvi algumas vezes "Por quê você não faz Jornalismo?" e sempre respondia que não, pois seria muito chato, usar roupas sociais, televisão, ou então ter de escrever sobre os cinco tiros que deram no Zé da esquina, pobre coitado. Mas esse meu conceito vem sendo dissolvido, ao pensar que eu posso seguir por outra vertente do jornalismo, já que sempre faço o lado alternativo das coisas. Penso em trabalhar numa editora, porém sem ter que escrever sobre desastres, nem cabelos e unhas, mas sim sobre coisas boas, diferenças, Brasil, mundo, arte, enfim: cultura!
Já até vi as matérias do curso em algumas universidades, umas muito interessantes, outras nem tanto; também depende da faculdade.
Enfim, acredito que a fotógrafa vai ficar para complementar meu trabalho no jornalismo e nas horas vagas, porque já nascem projetos culturais numa mente que não pára...