domingo, 28 de setembro de 2008
Não têm vez
Ela via aquela menina todos os dias, moça bonita, de cabelos lisos e sempre maquiada. Com aparência de quem tem dinheiro para passar maquiagem mesmo em dia de chuva. Como era bonita! Daquelas que até as mulheres reparam, querem se espelhar. E Sônia não faria diferente.
Um dia, reservou um tempinho antes de sair para trabalhar, pra se "ajeitar" tal como a moça bonita. Tinha uma maquiagem barata encostada, só usava para festas. Pois a desencostou e atreveu-se a aplicar. Rímel, lápis, sombra, blush. Uma maquiagem trivial, que deu-lhe uma aparência melhor.
Andou três quarteirões para chegar no ponto de ônibus, dentro dele mais 30 minutos para chegar ao local de trabalho, onde fazia serviço braçal. Todos os dias pensava que sua professora tinha razão quando dizia que a 8ª série não era suficiente para se viver bem.
Chegou, trabalhou, voltou, 30 minutos, mais os três quarteirões.
Entrou em casa e avistou Cesar, seu marido, deitado no sofá.
- Que cara é essa?
- Cara de quê?
- Essa cara de palhaço borrado e cansado.
- Ai, não fala assim.
- Falo sim. O que fez?
- Passei maquiagem.
- Pra quê?
- Pra ficar mais bonita, ué.
- Bonita? Sônia, mulher pobre não tem vez. Você passa essa maquiagem na cara e logo sua andando até o ônibus. Escorre. E maquiagem não adianta. Pobre tem cara de pobre, e nenhum disfarce desmente isso. Porque gente como a gente não vai à academia, não tem as pernas feitas à mão, no máximo é torneada pelo subir e descer dessas escadas e limpar a casa onde você trabalha nos fins de semana. Nós temos a pele morena de sol, com manchas e sardas, temos cabelo que não amansa com qualquer creme ou ferro, e mesmo se amansar, é aquele cabelo sem vida e opaco por causa das químicas. Os peitos não são duros; o ônibus balança demais e a gravidade agradece. Nós temos olhos cansados, Sônia, assim como não temos nada do que a pessoa que te induziu a fazer isso tem.
- ... É.
- Vá tomar um banho, vá.
- Sim. O que vai querer para a janta?
sábado, 13 de setembro de 2008
cartinha
Prezado menino bonito;
Mal sabe que te escrevo. Todos os dias.
Você sempre passa, me olha, fala comigo, ah! Mal sabe..
Mal sabe que seu rosto é presente tanto antes, quanto depois de nosso encontro diário tão esperado (por mim), que faço outro caminho para andar contigo alguns metros. Bem, andávamos, pois agora pegamos a mesma condução.
Te escrevo diariamente, sabia? Pergunto como foi seu dia, se se lembra daquele dia, como está, se resolveu seus problemas; até te dou conselhos, mas você insiste em não ler. Justo as minhas, moço?
As minhas cartas de amor, que estão escritas nos meus olhos, você sequer vê. Seguirei escrevendo, tenha certeza, suas cartas estão guardadas, pra quando me olhar.
Pegue ao menos um dos beijos que te mando;
Um abraço,
Te amo!
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Colors. I see colors coming soon.
Outro dia parei pra pensar em quantas vezes penso que vou me apaixonar por alguém. Claro, perdi as contas. A gente é engraçado, né? Digo porque, por mais que eu pense que me fecho pra essas coisas, estou sempre pensando na possibilidade de um relacionamento, ou mesmo de uma aproximação com fulano que acabei de conhecer por acaso, ou com o outro, que ha tempos observo; enfim. E não adianta negar, eu sei que você também é assim. Pronto, falei. Você, ele, elas, eu, todos, pelo menos uma vez na vida já pensamos nisso. E é curioso, porque fica sempre numa expectativa, muda a rotina, tenta encontrar, trombar, ou pelo menos ver de longe a pessoa. Ficamos parencedo bobos, mas só nós sabemos disso. Daí vem o pensamento: pára que está ficando ridículo pra você mesmo. E o outro: tô nem aí. Só para alimentar uma possibilidade, ou um pensamentozinho que seja. Aí tem alguns destinos para essa situação interna: Você começa deixar transparecer que fica bobo quando a pessoa vem, os outros percebem e dá certo alguma coisa, ou mesmo deixando transparecer a pessoa finge que não sabe de nada e você entende o recado. Ou então, tu deixa pra lá, vê que não estava tão eufórico e parte pra outra. Tudo pra sanar momentaneamente sua carência permanente. E não negue!
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
ouve essa:
"Saia
Dessa vida de migalhas,
Desses homens que te tratam como um vento que passou.
Caia
Na realidade farda,
Olha bem na minha cara e confessa que gostou.
Do meu papo bom
Do jeito são
Do meu sarro, do meu som
Dos meus toques pra você mudar
Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração,
Ao cair da tarde.
Ouve aquela canção que não toca no rádio."
Dessa vida de migalhas,
Desses homens que te tratam como um vento que passou.
Caia
Na realidade farda,
Olha bem na minha cara e confessa que gostou.
Do meu papo bom
Do jeito são
Do meu sarro, do meu som
Dos meus toques pra você mudar
Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração,
Ao cair da tarde.
Ouve aquela canção que não toca no rádio."
sem maiores explicações.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Ciclo
E lá vem ele: com seu sorriso alegre, passos curtinhos e pernas também. Riso frouxo, tudo no seu lugar, só sua paixão que anda um pouco alterada, alta demais. E por quem? Por ela!
Ela, que vê num terceiro a graça que gosatria de ver no primeiro! Terceiro esse, que ora é amável, ora puro amargor, criança querendo colo. Cara de menino, olhar forte; quanto querer ela tem a ser disperdiçado por este, que por sua vez, só tem olhos para outra, outras.
João, que ama Maria, que ama José, que ama Carolina, que odeia Maria.
Ela, que vê num terceiro a graça que gosatria de ver no primeiro! Terceiro esse, que ora é amável, ora puro amargor, criança querendo colo. Cara de menino, olhar forte; quanto querer ela tem a ser disperdiçado por este, que por sua vez, só tem olhos para outra, outras.
João, que ama Maria, que ama José, que ama Carolina, que odeia Maria.
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